01 fevereiro 2018

Um crime que o regime não admite. Uma memória que dificilmente se esquecerá

Podemos nós esquecer quem somos e fazer disso uma mais valia?

Seleccionar no passado aquilo que queremos e não queremos, aquilo que fica "bem" e o que nos embaraça, como se a memória fosse um self-service?

O orgulho sempre foi o pão dos pobres de espirito, a teimosia sempre garantiu a infalivél perenidade do caractér daqueles que confundem um bom discurso com justiça social... admitir um erro, uma falha é algo que apenas está reservado ao que podem a ultrapassar. Estranho um regime que diz "moderno", "igualitário" não ser capaz de admitir , reconhecer ou lamentar que D. Carlos e seu filho foram assassinados, não porque fossem "maus" mas porque eram a única fronteira entre a ambição de poucos e a vulnerabilidade de todos os outros (nós)... o povo.

Tantas são as estátuas de ilustres desconhecidos homenageados cuja obra se resume a um livro ou um acto circunscrito à geração que os homenageou. Tantos os feriados cuja origem o povo desconhece ou dá pouca relevância, tantos os medalhados pelo actual regime, cuja relevância é questionável ou desconhecida.

Quando se trata de homenagear um Rei como D. Carlos ou repudiar os actos que levaram à sua morte, cuja maioria dos republicanos e do povo condenam, o regime e os seus orgãos e instituições são de forma avassaladora, inundados por uma amnésia colectiva.

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Evocação do Regicídio a 1 de Fevereiro de 2009... a total ausência de bandeiras da República


Vergonha, ignorância ou puro desinteresse por Portugal, tudo pode ser usado para justificar semelhante ausência institucional no dia 1 de Fevereiro. Entre a pura proibição de participação e o silêncio, os vários regimes e governos têm-se pautado por uma coerência granitíca que os torna mais semelhantes do que diferentes no que toca à real memória do que é Democracia.

Mais importante do que relembrar que as Democracias não podem ser fundadas em cima de crimes e homicidios, é o cantar as janeiras para o Primeiro-Ministro (o Colégio Militar, proibido de participar no Centenário do regicídio, foi posto a cantar as janeiras num acto eleitoralista), inaugurar um hipermercado ou mesmo congregar esforços para "desculpar" eventuais corrupções (toda a oposição deu o apoio institucional ao primeiro ministro no caso freeport).

O actual regime vive mal com a memória e a História do País. Não se trata de uma questão de oposição entre Monarquia e Republica é uma questão de principio, ética e Liberdade. D. Carlos foi Chefe de Estado de Portugal, um Rei em paridade com D. Afonso I tão português quanto tantos outros ilustres republicanos que partilharam a sua sorte... o de ser alvo de justiça popular por um punhado de fanáticos que nem sequer constituiam uma força politica ou uma alternativa ou projecto para Portugal.

Uma classe política que vive mal com o passado dificilmente poderá construir qualquer futuro. As monarquias europeias souberam ultrapassar e corrigir erros passados sem repudiar qualquer um destes ( e é isto que explica o seu superior desenvolvimento). Mau grado não ter, até hoje, a Republica Portuguesa aprendido esta importante lição, corremos o risco de ver uma repetição daquilo que Portugal faz melhor desde o principio do sec XX e continuar a afundar até Portugal ser o que o Regicídio é, para a classe politica vigente desde 1910.

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uma memória que se quer esquecer...
...esperemos que não, pelas gerações que agora nascem.


Ricardo Gomes da Silva


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