segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

A MENSAGEM DE ANO NOVO DO PR E A FLORESTA DE ENGANOS

   “O público, como todos os soberanos, como os
                         Reis, os povos e as mulheres, não gosta que se
                         lhes diga a verdade”.
                                                                       Alexandre Dumas


Não vamos falar do que o actual Presidente da República disse na sua mensagem de Ano Novo.

Esta mensagem representa um conjunto de vacuidades – “generalidades e culatras” como se diria na gíria militar – com fundo agradável e esperançoso apenas com um alerta para a economia (que tem as costas largas) e medianamente escrita, pois acreditamos que a azáfama algo adolescente do actual inquilino do Palácio de Belém, não lhe dá tempo para o esmeril literário.
                
Tal mensagem constituiria um discurso apropriado para um país e uma sociedade que se aproximasse do conceito de Paz, no dizer de Santo Agostinho: “a tranquilidade na ordem de todas as coisas”…
                
Ora estamos a anos-luz de atingir tal desiderato.
                
O que é importante realçar na peça breve, com que nos desejou um bom ano, não foi o que disse, mas sim o que omitiu.
                
Ora o Professor Marcelo Rebelo de Sousa como primeiro responsável político da Nação tem, não só o direito, mas sobretudo, tem o dever de informar, de alertar e de propor soluções, para a gravíssima situação em que o país se encontra.
                
Responsabilidade que deve ser partilhada pelo Governo e pelo Parlamento.
                
E não é com “afectos” que a coisa se resolve, por isso a fórmula, o “povo gosta, o povo quer, o povo tem”, pode parecer muito democrática, mas é apenas a antecâmara de um desastre qualquer.
                
O Dumas, aliás, percebeu isso muito bem.
            
Omitir elementos essenciais de informação é, não só uma forma de faltar à verdade, como representa um meio encapotado de mentir.
                
Mas é evidente para todos – e o PR seguramente não o vai desmentir – que o comentador político Marcelo conhece de cor e salteado, o “Príncipe” de Maquiavel, de trás para a frente…
                
E o que faltou dizer é que a Nação Portuguesa enfrenta uma das piores crises da sua História e que pode colocar um ponto final na sua existência.
            
Seria muito brutal?
                
Seria, mas vai ser a única forma de acordar a maioria da população do país e as suas diferentes instituições para a realidade, que tem que enfrentar (quer queira, quer não) em vez de simplesmente empurrar a população jovem a emigrar, (e a tentar substitui-los por migrantes que nada têm a ver connosco); correr com o que resta das comunidades que vivem no interior do país, para o litoral (desertificado ¾ daquele); vender todo o património – incluindo o próprio solo - ao desbarato (obviamente sem muitos se esquecerem de embolsar as respectivas comissões) e, sobretudo a pedir dinheiro emprestado, prática em que a classe política consegue bater qualquer profissional seja em que área for!
                
Actividade a que, num acto de suicídio recorrente, os responsáveis políticos se têm entregado alegremente, nas últimas quatro décadas.
                
O PR como Supremo Magistrado da Nação tem o dever de saber, e sabe, que o país está prisioneiro de um problema financeiro absolutamente catastrófico, baseado no estado não adjectivável em que se deixou cair a banca e o mercado de acções; cativo do BCE e de um pequeno estado dentro do estado, chamado Banco de Portugal; de uma descapitalização quase geral das famílias e das empresas; de uma soma insondável de crédito mal parado e de dinheiro colocado legal e ilegalmente em “offshores” (que todo o mundo condena, mas sobre o qual ninguém mexe um dedo) e sobretudo de uma dívida galopante que mesmo se fosse parada agora, seriam precisas 10 gerações de portugueses a trabalhar no duro (e não a aumentar dias de férias, fazer pontes e reduzir horas de trabalho) – as tais verdades que ninguém gosta de ouvir e que também não são acompanhadas por nenhum exemplo.
            
Curiosamente um dos principais responsáveis por toda esta débacle histórica foi agora a enterrar entre encómios, únicos audíveis!
                
Destarte sem se sanear as finanças e pô-las no bom caminho é impossível fazer reverter seja o que for, nem sequer o Estado tem meios quer nacional, quer internacionalmente, de exercer a sua autoridade. Não temos soberania, não contamos para nada, nem ninguém nos respeita.
            
O Ronaldo vai fazendo a sua parte, mas para os assuntos ora versados, pouco adianta…
                
Porém para sanear as finanças é necessário dar conta das causas da sua desgraça e estas são basicamente duas: um problema moral, cuja consequência para o que estamos a tratar, se chama corrupção, e um problema político, que também deriva daquele mas que se encontra plasmado em muitos erros do actual sistema político e sua estruturação, cuja peça base é um livrinho vermelho que dá pelo nome de Constituição.
                
Escusado será dizer que se as causas dos problemas, não forem atacadas, mas apenas os seus efeitos (às vezes nem esses), jamais resolveremos os problemas.
                
E o actual PR, que anda nisto há muito tempo e é até, um dos obreiros do tal livrinho, sabe tudo isto muito bem.
                
O PR sabe também, e como católico assumido, deve senti-lo ainda mais, que a sociedade portuguesa está contaminada e em grande parte subvertida, pelo cancro do “Relativismo Moral”, por ideologias subversivas oriundas de centros difusores da revolução permanente (por exemplo a Escola de Frankfurt) e pela influência de organizações de carácter “secreto” com antenas “discretas”, que tentam influenciar as alavancas do Poder e o comportamento social – isto para além de se construírem mancomunagens “fraternais” com sistemas de proteção e lealdades próprias.
                
Ora tudo isto representa ameaças permanentes à nação dos portugueses, a juntar a iberismos e federalismos serôdios.
                
O PR, como “Comandante-em-Chefe” das Forças Armadas, tem que andar atento às ameaças e deve colocar a Nação em guarda contra as mesmas.
                
E já deve ter adquirido a noção – e se não a tem é porque os chefes militares não estão a cumprir com o seu dever – de que o país está sem defesa pois não tem a menor possibilidade de sustentar qualquer tipo de conflito ou crise, sequer de baixa intensidade, por mais de duas ou três semanas.
                
E também como sabe, passando-se as coisas como as descrevo - e desafio seja quem for a desmentir-me – a opinião pública e publicada não as reflete entrando, porém, em quase histeria quando existe uma enchente de doentes nas urgências dos hospitais por causa de um pico de gripe; um craque do futebol chama nomes aos árbitros, um cantor rock morre de “overdose” ou um pederasta qualquer, é morto pelo “companheiro”!
                
Por isso, senhor Presidente, ao fazer o discurso que fez, apenas tentou iludir o amargo de boca permanente com um rebuçado momentâneo.
                
Não prestou um bom serviço ao país, mesmo que à esmagadora maioria da população possa ter agradado o gesto.
                
Limitou-se a repetir a velha história do rei que ia nú e a confundir ainda mais a generalidade dos portugueses (de quem se diz sentir tão próximo) com uma tão vasta floresta de enganos.


João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador


Fonte: O Adamastor

Sem comentários: