terça-feira, 28 de julho de 2015

Ceuta 1415 - 2. Partida para a grande expedição

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D. João I encontrava-se em Alhos Vedros, vila livre da terrível peste, quando decidiu prosseguir com a grande expedição, apesar de todas as contrariedades. Partiu na galé do seu filho Conde de Barcelos e foi pernoitar junto da frota que, fundeada no Restelo, aguardava instruções. No dia seguinte, levou o navio de comando até Santa Catarina (Algés) donde fez soar as trombetas que assinalavam a partida. Foi certamente impressionante o espectáculo da partida em direcção à foz da armada com dimensão nunca antes vista no Reino. Estima-se que incluía cerca de 200 navios e 20,000 homens. Era o dia 25 de Julho de 1415, dia de S. Tiago. Faz hoje precisamente 600 anos.

Aproveitando o vento favorável de norte, a frota dobrou o cabo de S. Vicente no dia seguinte, tendo folgado momentaneamente as velas como sinal de respeito pelo lugar onde tinham repousado as relíquias do santo. Ancoraram na baía de Lagos já na noite do dia 26. Foi aí que, no dia seguinte, o Mestre Frei João Xira explicou durante o sermão da missa o destino e os motivos daquela grande empresa, que tinham sido guardados em segredo até então e, portanto, eram ainda desconhecidos de quase todos os participantes.

A cruzada foi razão a invocada. Era considerado “serviço de Deus” expandir a fé em Jesus Cristo e combater o infiel. Tratava-se de retomar a reconquista cristã para sul mas, desta feita, além-mar. Recorde-se que a cidade de Ceuta tinha sido cristianizada pelos bizantinos na época de Justiniano – séc. VI – e cristã se manteve durante o domínio visigótico. Foi a partir do séc. VIII que a invasão do califado omíada instalou o culto islâmico na região, transformando as igrejas em mesquitas. Portanto, era chegada a hora de vingar a traição do conde Julião, governador visigótico de Ceuta que, reza a tradição, terá colaborado com o invasor árabe e facilitado às tropas de Tariq a travessia para a Hispânia através do Estreito, em 711. Seria esta ideia de cruzada e a promessa de indulgência concedida por bula do Papa a razão publicamente invocada para a realização da expedição.

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Contudo, o próprio Zurara refere no início da narração que foi João Afonso de Alenquer quem convenceu os três infantes de Avis dos méritos que teria a eventual conquista de Ceuta nas suas investiduras como cavaleiros. O facto de João Afonso ser vedor da fazenda, isto é, responsável pelo tesouro do Reino, serviu de base às diversas conjecturas surgidas na historiografia pós-romântica acerca das razões que verdadeiramente teriam pesado na decisão de El-Rei. António Sérgio, Jaime Cortesão, Vitorino Magalhães Godinho, Luís Adão da Fonseca, entre outros, elaboraram variadas hipóteses baseadas em motivos de outras naturezas:
Motivos económicos – O aproveitamento do relevante entreposto de comércio, o controlo das zonas de pesca, o combate ao corso e a protecção da costa algarvia face aos frequentes ataques mouros, o trigo produzido nas searas de uma região próxima, as especiarias e o ouro que ali chegavam vindas do oriente e do sertão africano.
Motivos sociais – As oportunidades de novas terras e de mais mercês para a nobreza, de expansão do evangelho para o clero, de mais negócio para os mercadores, de saque para alimento do povo mais humilde.
Motivos políticos - Afirmar o prestígio da nova dinastia que acabava de se impor a Castela, tomar a iniciativa da reconquista cristã em África e ali estabelecer uma base para futuras conquistas, assumir o maior protagonismo entre os reinos hispânicos, asfixiar o reino de Granada pelo sul, controlar a entrada e a saída do mediterrâneo.

Dificilmente se sairá da discussão em torno da verosimilhança de cada uma destas hipóteses. Certo é que a “chave do mediterrâneo” (nas palavras sábias do cronista), era o objectivo para onde se dirigia a grande armada portuguesa saída de Lagos. A ausência de vento obrigou ainda a uma paragem de uma semana em Faro. Como iria decorrer o resto da viagem, agora que eram do conhecimento de todos o destino e o objectivo da missão?

por João Ferreira do Amaral, em 25.07.15

Fonte: 31 da Armada

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