sexta-feira, 31 de julho de 2015

Prémio Príncipe da Beira com candidaturas abertas

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O Prémio Príncipe da Beira Ciências Biomédicas, instituído pela Universidade do Minho, pelo Município de Guimarães e pela Fundação D. Manuel II, tem as candidaturas abertas à sua primeira edição até 30 de Setembro.

O galardão, no valor de 15 mil euros, visa distinguir um investigador de excelência na área, com menos de 40 anos de idade, pretendendo apoiar o seu plano de pós-graduação a realizar numa instituição de I&D nacional e/ou estrangeira.

A iniciativa tem como objectivo primordial premiar anualmente a excelência científica e contribuir para abrir novos caminhos na investigação aplicada e ética no domínio das ciências biomédicas. Pretende também colaborar para o desenvolvimento de terapias avançadas e impulsionar o desenvolvimento de uma nova geração de investigadores com formação focada naquela área científica.

É admitido a concurso um único plano de trabalho por candidato(a), o qual deverá ser executado por um período mínimo de um ano e ser enquadrado nos estudos pós-graduados, nomeadamente de doutoramento. O júri inclui personalidades e cientistas de mérito, como António Lobo Ferreira, Braga da Cruz, Rui L. Reis, Adalberto Neiva de Oliveira, Adelina Paula Pinto e António Ferreira. Mais detalhes podem ser encontrados no site da UMinho.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

D. Luís I – Um dos Inventores da Granada Moderna



El-Rei Dom Luís I realçou a realeza da Sua estirpe com os preclaros dotes de uma inteligência cultíssima. Aos 8 anos de idade, o infante Dom Luís, Duque do Porto, ainda longe de pensar vir a ser rei, serviu na Marinha, iniciando a Sua carreira, em 1846, como guarda-marinha, e exerceu o seu primeiro comando naval em 1857 capitaneando o briguePedro Nunes, no qual navegando à cabotagem percorreu a costa de Portugal até Gibraltar. No ano seguinte o Rei, Seu irmão, entrega-lhe o comando da recém-adquirida corvetaBartolomeu Dias, o principal navio de guerra português no qual Dom Luís visita os Arquipélagos portugueses do Atlântico e as colónias africanas portuguesas. Nove missões de serviço desempenhou com brio, até que se viu, por acaso do destino, alçado Rei.
Ora sendo um homem do Mar não poderia durante o Seu Reinado desviar as atenções da Armada e dos assuntos científicos que aperfeiçoara enquanto marinheiro.
Não podemos apelidar Sua Majestade Fidelíssima o Rei Dom Luís de Portugal, de Cientistana acepção hodierna, pois os assuntos de Estado afastavam-no da dedicação exclusíva que tal mester obriga. Porém, não se pode deixar de intitular El-Rei de um Homem da Ciência, visto que empreendeu na segunda metade do século XIX, experiências científicas que justificam plenamente o rótulo.
Interessado cientista, a mecânica, a astronomia, as belas artes, a cartografia, a físico-química e a balística eram ciências que não tinham para Ele segredos, às quais dedicava infatigável actividade e os mais renomados cientistas, que visitavam o Paço Real, não recusavam o auxílio das Suas luzes.
O Rei Dom Luís I, teve uma vida abastada de merecimentos, mas não se pode deixar de destacar uma das Suas ‘invenções’ que, vá-se lá saber por quê, não é suficientemente falada: as estrias na granada de artilharia.
Com os estudos que desde tenra idade o capacitaram, com a preparação técnica que adquiriu como oficial da Marinha Real, e com o intercâmbio de experiências com os principais cientistas da época, o Rei Dom Luís I aperfeiçoou as granadas de artilharia que até aí possuíam alma lisa.
A granada é um artefacto bélico com uma câmara interna que leva uma carga de arrebentamento; o nome deriva da palavra granatum ou romã, pois assemelha-se a tal fruto, embora o primeiro obus a que verdadeiramente se poderá apelidar de granada tenha sido inventado na China medieval, no século IX, e consistia numa cebola oca cheia de pólvora que era atirada, muitos contribuíram para o aperfeiçoamento ou ‘invenção’ da granada moderna – o Rei Dom Luís I foi um deles.
Desde a sua invenção que cada guerra contribuiu para a evolução da granada, e, assim eis que também um português teve a sua intervenção, e não foi um português anónimo: aos obuses lisos, Dom Luís I procedeu a perfurações dos projécteis para que os gases da explosão imprimissem às granadas um curso rotativo que tornava o tiro mais preciso. Além dessas perfurações desenvolveu, também, o sistema de traçado de estrias nas almas lisas das granadas, sistema que viria a prevalecer até aos dias de hoje. Em Janeiro de 1865, enviou as granadas aperfeiçoadas para França, para serem testadas pela potência bélica francesa e em reconhecimento do mérito da invenção o Imperador de França Napoleão III agraciou Sua Majestade Fidelíssima El-Rei Dom Luís I de Portugal com uma Medalha de Honra em Ouro.
Miguel Villas-Boas

terça-feira, 28 de julho de 2015

Ceuta 1415 - 2. Partida para a grande expedição

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D. João I encontrava-se em Alhos Vedros, vila livre da terrível peste, quando decidiu prosseguir com a grande expedição, apesar de todas as contrariedades. Partiu na galé do seu filho Conde de Barcelos e foi pernoitar junto da frota que, fundeada no Restelo, aguardava instruções. No dia seguinte, levou o navio de comando até Santa Catarina (Algés) donde fez soar as trombetas que assinalavam a partida. Foi certamente impressionante o espectáculo da partida em direcção à foz da armada com dimensão nunca antes vista no Reino. Estima-se que incluía cerca de 200 navios e 20,000 homens. Era o dia 25 de Julho de 1415, dia de S. Tiago. Faz hoje precisamente 600 anos.

Aproveitando o vento favorável de norte, a frota dobrou o cabo de S. Vicente no dia seguinte, tendo folgado momentaneamente as velas como sinal de respeito pelo lugar onde tinham repousado as relíquias do santo. Ancoraram na baía de Lagos já na noite do dia 26. Foi aí que, no dia seguinte, o Mestre Frei João Xira explicou durante o sermão da missa o destino e os motivos daquela grande empresa, que tinham sido guardados em segredo até então e, portanto, eram ainda desconhecidos de quase todos os participantes.

A cruzada foi razão a invocada. Era considerado “serviço de Deus” expandir a fé em Jesus Cristo e combater o infiel. Tratava-se de retomar a reconquista cristã para sul mas, desta feita, além-mar. Recorde-se que a cidade de Ceuta tinha sido cristianizada pelos bizantinos na época de Justiniano – séc. VI – e cristã se manteve durante o domínio visigótico. Foi a partir do séc. VIII que a invasão do califado omíada instalou o culto islâmico na região, transformando as igrejas em mesquitas. Portanto, era chegada a hora de vingar a traição do conde Julião, governador visigótico de Ceuta que, reza a tradição, terá colaborado com o invasor árabe e facilitado às tropas de Tariq a travessia para a Hispânia através do Estreito, em 711. Seria esta ideia de cruzada e a promessa de indulgência concedida por bula do Papa a razão publicamente invocada para a realização da expedição.

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Contudo, o próprio Zurara refere no início da narração que foi João Afonso de Alenquer quem convenceu os três infantes de Avis dos méritos que teria a eventual conquista de Ceuta nas suas investiduras como cavaleiros. O facto de João Afonso ser vedor da fazenda, isto é, responsável pelo tesouro do Reino, serviu de base às diversas conjecturas surgidas na historiografia pós-romântica acerca das razões que verdadeiramente teriam pesado na decisão de El-Rei. António Sérgio, Jaime Cortesão, Vitorino Magalhães Godinho, Luís Adão da Fonseca, entre outros, elaboraram variadas hipóteses baseadas em motivos de outras naturezas:
Motivos económicos – O aproveitamento do relevante entreposto de comércio, o controlo das zonas de pesca, o combate ao corso e a protecção da costa algarvia face aos frequentes ataques mouros, o trigo produzido nas searas de uma região próxima, as especiarias e o ouro que ali chegavam vindas do oriente e do sertão africano.
Motivos sociais – As oportunidades de novas terras e de mais mercês para a nobreza, de expansão do evangelho para o clero, de mais negócio para os mercadores, de saque para alimento do povo mais humilde.
Motivos políticos - Afirmar o prestígio da nova dinastia que acabava de se impor a Castela, tomar a iniciativa da reconquista cristã em África e ali estabelecer uma base para futuras conquistas, assumir o maior protagonismo entre os reinos hispânicos, asfixiar o reino de Granada pelo sul, controlar a entrada e a saída do mediterrâneo.

Dificilmente se sairá da discussão em torno da verosimilhança de cada uma destas hipóteses. Certo é que a “chave do mediterrâneo” (nas palavras sábias do cronista), era o objectivo para onde se dirigia a grande armada portuguesa saída de Lagos. A ausência de vento obrigou ainda a uma paragem de uma semana em Faro. Como iria decorrer o resto da viagem, agora que eram do conhecimento de todos o destino e o objectivo da missão?

por João Ferreira do Amaral, em 25.07.15

Fonte: 31 da Armada

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Entrevista de SAR, A Senhora D.Isabel de Bragança ao Diário de Notícias

"O espírito monárquico e a religião têm de ser dados aos filhos a conta gotas, porque se não ficam ateus e republicanos"


"O espírito monárquico e a religião têm de ser dados aos filhos a conta gotas, porque se não ficam ateus e republicanos"


Almoço com SAR, D. Isabel de Bragança

À chegada ao segundo andar do prédio onde vivem os duques de Bragança, a porta abre-se. Eu, republicano empedernido e preconceituoso, convenci-me de que ia ser recebido por um mordomo daqueles à antiga com suíças até ao queixo ou por uma empregada impecavelmente vestida e engomada. Estupefacto, dou de caras com D. Duarte Pio e D. Isabel de Bragança a fazerem o acolhimento. "Entre, entre", dizem-me com uma naturalidade e uma descontracção familiares.
Cheguei preparado para um chá com a mulher casada há 20 anos com o Herdeiro do trono português. Mas está calor, muito calor. Quase que convocamos a ironia do Eça para dizer que "está de ananases". As janelas da sala cheia de fotografias dos infantes estão abertas para que o ar circule. Dispo o casaco e alivio o nó da gravata. O duque de Bragança, que está de saída, pendura-mo no bengaleiro de chão arrumado a um canto do hall de entrada. "O que é que quer beber? Uma cerveja, um sumo..." Ainda estou pasmo. São eles que fazem tudo. Fico-me pela água fresca que há de ajudar-me, ao longo da conversa, a engolir as fantasias, porventura injustas, que fui construindo ao longo da vida sobre estas pessoas. É a duquesa, dona de uma discrição impressionante, quem vai à cozinha buscar o jarro e serve os copos.
Sentamo-nos, frente a frente, vigiados pelo olhar de Jesus Cristo pregado na cruz gigante que domina a sala de estar. Licenciada em Gestão e especializada em Finanças na Universidade Getúlio Vargas, em São Paulo, trabalhou na empresa do amigo António Bustorff como gestora de fortunas e património até 1995. Depois do casamento com D. Duarte Pio, desistiu da carreira. "Abdiquei a nível financeiro. Ainda acompanhei os mercados durante um tempo, e de vez em quando ainda acompanho, mas mudei de ramo. Ainda tentei continuar a trabalhar, mas como tinha de passar muito tempo fora a acompanhar o meu marido - na altura ainda não tinha as crianças - comecei a achar que não era justo estar lá e acabei por sair." Dedica-se, até hoje, à gestão dos imóveis da família, herança deixada ao marido pela última rainha de Portugal. "Faço a gestão deste património, que a rainha D. Amélia deixou directamente ao meu marido. Foram os únicos prédios com que Salazar, quando fez a Fundação Casa de Bragança, não pôde ficar. Esses prédios têm vindo a ser restaurados. Tínhamos uma inquilina, até há pouco tempo, que tinha feito o contrato de arrendamento com a rainha D. Amélia. Por isso imagine a renda que ela pagava. Gostávamos imenso dela, era uma querida, mas a renda era realmente muito baixa. E, ao longo deste anos, o esforço foi tentar recuperar os apartamentos, os prédios, aumentar as rendas e fazer que as casas fossem autossuficientes."
O duque de Bragança diz, por graça, que Isabel é "a ministra das Finanças" da família. A duquesa sorri e confirma que tem queda para a tirania financeira. "Normalmente, quando vamos às compras, o meu marido gosta de ser mais gastador e eu sou mais mão de vaca, sou mais forreta. Temos de ter atenção. Quando estamos em funções de representação temos de representar bem quem somos e o país a que pertencemos. Mas depois, no dia-a-dia, somos pessoas normais e discretas. Não esbanjamos, não precisamos de estar a gastar de mais. Neste momento, não há nenhuma família que não tenha de ter atenção ao orçamento e que não faça contas. Não se pode dar passos maiores do que a perna. E faço questão de não ultrapassar os limites."
Monárquica desde que se conhece, "não me lembro de não ser", D. Isabel de Bragança não tem dúvidas de que as monarquias são melhores do que as repúblicas. "Por exemplo, se perguntarmos a qualquer pessoa quem é o presidente da Alemanha, ninguém sabe. Se perguntarmos quem é o rei de Espanha, de Inglaterra, da Holanda ou do Luxemburgo, quase toda a gente sabe. Depois começamos a aprofundar mais, e indagamos quais são as economias mais desenvolvidas, onde é que as liberdades são mais respeitadas, etc. É nas monarquias." A pergunta é óbvia mas inevitável. Acredita mesmo que um dia vai ser rainha de Portugal? "Há uma certa barreira, sobretudo da parte política. Às vezes pergunto-me: vivemos numa democracia, defendemos a democracia, toda a gente acha e sabemos que os países mais desenvolvidos da Europa são os que têm monarquia. Mas depois, na nossa democracia que é tão boa, há um artigo na Constituição que proíbe o referendo e que as pessoas se pronunciem sobre o modelo de governo. Acho que é um bocadinho hipócrita. Às vezes irrita-me um bocadinho esta coisa: se vivemos num país democrático, porque é que não deixam o povo escolher? Agora, não penso se vou ser rainha ou não vou. De certa maneira já me sinto, mas digo sempre que Nossa Senhora é que é a rainha de Portugal e por isso sinto-me muito mais à vontade. Mas, de certa maneira, quando estou lá fora a representar Portugal, ou cá dentro, quando estamos a educar os nossos filhos, o espírito de serviço, nós temos uma posição oficiosa. As pessoas, quando vou na rua, perguntam como é que estão os nossos meninos. Isto é, não são meus são de todos. Tenho essa noção de que a minha família é de todos. Há uns que gostam mais, outros que gostam menos, e há uns que não ligam nenhuma. Mas também sei que há muitos que nos consideram família deles."
O filho mais velho, Afonso de Santa Maria, tem 19 anos. Porque o pai, D. Duarte Pio, já fez 70, há de assumir um dia a função de Herdeiro do trono. "Isso, às vezes, pesa-lhe um bocadinho", reconhece. E a dúvida que me assalta é a de saber como é que se educa alguém para uma coisa que, constitucionalmente, não existe. "É uma responsabilidade. Para qualquer pai é difícil. No fundo, o que queremos sempre é que os nossos filhos sejam felizes, sejam confiantes, desenvolvam as suas capacidades e que sigam a sua vocação. O espírito monárquico e de serviço monárquico e a religião têm de ser dados a conta gotas, porque se não ficam ateus e republicanos [risos). Se os começarmos a obrigar a ir a tudo eles reagem e dizem "eu não quero isto para nada". Mas eles, desde pequenos, têm vindo a acompanhar-nos, quer cá dentro quer lá fora. E, de facto, a nossa maior preocupação é que eles tenham confiança e se sintam felizes, que tenham este amor a Portugal que nós os dois temos, e que tenham esta noção histórica daquilo que representam. E eles sabem, porque nós dizemos sempre, mesmo que vocês não venham a ser chamados, vocês são quem são. E isso tem uma responsabilidade."
Habituada ao convívio com cabeças coroadas e outras sem trono, não esconde admiração pela rainha de Inglaterra, Isabel II, pelos monarcas espanhóis Juan Carlos e Sofia, pela rainha Beatriz da Holanda ou pelo rei Balduíno da Bélgica, que morreu em 1993. Mas é com Semeão da Bulgária, o rei deposto pelos comunistas e forçado a 50 anos de exílio, que tem mais empatia.
Apesar dos títulos nobiliárquicos, D. Isabel de Bragança é mulher informal. Gosta de coisas simples e mundanas. De caminhadas manhã cedo, de ir à praia e nadar no mar ou de montar a cavalo, o que não faz há muito tempo, porque "me dá paz de espírito". É apaixonada por livros. O que mais a marcou foi O Perfume, de Patrick Suskind, porque "os cheiros estavam lá todos". Devora romances históricos, aprecia António Lobo Antunes ou Agustina. "Quando era mais nova, tive uma fase em que adorava o Camilo Castelo Branco. E até é engraçado que ainda agora o meu filho fez um trabalho que era uma comparação entre o Shakespeare e o Camilo Castelo Branco." Sempre que pode vai ao cinema, mas também fica em frente à televisão agarrada a uma boa série. "A Maria José Nogueira Pinto aconselhou-me uma vez a ver o Prision Break. Era fantástico." De ter amigos em casa e fazer jantares. "Não sou uma supercozinheira, mas as poucas coisas que faço, acho que faço bem." E até de contar anedotas. Sim, porque é pessoa como as outras, garante. "Quando fiz o curso de Defesa Nacional, algumas das pessoas que lá estavam olhavam para mim e tive aquela sensação de que "o que é que esta está aqui a fazer?". Para muitos, se calhar, estou sentada à espera de ir para um jantar, ou para uma festa, ou outra coisa qualquer, e não faço mais nada. Tomara muitas vezes poder dormir. Mas não me custa, que sou uma pessoa que acordo muito cedo. Mas somos normalíssimos, depois temos é mais este trabalho."
Os dias começam cedo, às vezes antes do nascer do Sol, pelas seis da manhã. "Os meus e-mails seguem, normalmente, a essa hora. Está tudo a dormir e é quando consigo ter tempo para ler o correio ou para ver as notícias. Depois, sempre que posso, gosto de ir andar. Leio e ponho uma série de coisas que estão atrasadas em dia. Até há pouco tempo, fazia questão de ir levar os meus filhos ao colégio, que é quando conversamos um bocado e rezamos o terço. Depois vou para o escritório, que é por baixo de casa. Na hora do almoço, se não tenho nada marcado, vou para a ginástica, que é outra coisa de que eu preciso. E depois, se possível, gosto de poder estar em casa a partir das quatro ou cinco horas da tarde, que é quando eles chegam e às vezes é preciso alguma coisa."
Ser rainha sem coroa tem, apesar de tudo, algumas vantagens. "Por um lado dá mais trabalho no sentido em que temos as responsabilidades e os deveres todos, mas não temos staff nenhum que nos ajude em coisas que nos facilitavam a vida. Por outro, tenho muito mais liberdade para dizer e fazer o que quero, enquanto as rainhas não podem tomar certas atitudes que eu posso. Se fosse rainha de facto, se calhar não podia guiar sozinha quando quero e para onde quero. Provavelmente tinha de ter guarda--costas. E teria, seguramente, menos liberdade. É claro que há coisas em que tomo cuidado porque o que dizemos tem consequências. Quer dizer, nem sei se tomo muito cuidado. Não sou uma pessoa que dê escândalos, para infelicidade de muita gente" [risos].
D. Isabel de Bragança é conservadora e mulher de fé. "Acredito que Nosso Senhor vai-me guiando." Patrocina várias associações de solidariedade social de apoio a crianças e doentes. E preside à Real Ordem de Santa Isabel, de que fazia parte Maria de Jesus Barroso e conta também com Manuela Eanes. "Somos cem senhoras portuguesas. E depois há também extranumerárias, como era a rainha Fabíola. A vocação é rezar pela união das famílias. A família é a coisa mais importante que temos e que hoje é muito atacada por diversas frentes. E um país para ir bem tem de ter famílias de bem. Mas, além disso, todos os anos damos dinheiro. Procuramos pelo país onde é que é mais preciso e cada ano damos a uma instituição diferente. Não temos assim tanto como isso, mas este ano vamos dar à Casa do Gaiato."
Atenta à realidade política, não perdoa a ruína a que foram votados os sectores produtivos nacionais após a adesão à CEE. "Agora vêm-nos dizer que a agricultura e as pescas são muito importantes, mas naquela altura não queriam saber disso para nada. Uma das coisas que me fazem imensa impressão, e aí também é a diferença que eu aponto entre um rei e um presidente, é que um rei pensa a 100 anos para a frente. E um presidente, pensa em quantos anos? Não quer dizer que não haja bons presidentes, mas quer dizer, pensa muito mais no curto prazo. Agora, independentemente de monarquia ou república, nesta altura temos é de nos unir todos para que o país sobreviva, vá para a frente e tenha pelo menos mais mil anos. Mas devia haver um grupo estratégico que pensasse em 50 ou 100 anos para a frente."
É tempo de despedidas. São quase horas de jantar. Já de pé, pergunto se a família é rica. "Para mim ser rico é uma pessoa ter interesses e não se acomodar. No plano económico, temos a sorte de fazer bem as contas. Se nós queremos e temos de representar Portugal, claro que às vezes dava jeito ter um bocadinho mais de dinheiro. Mas não estamos mal. Não somos ricos, mas também não estamos desesperados."
Ao longo da conversa repetiu, várias vezes, que "o Duarte era o meu melhor amigo" e que "nem eu sabia que ia casar-me com ele". Não resisti, por isso, a perguntar se tem memória do momento em que se apaixonou: "Foi quando uma prima do meu marido, de quem eu gostava muito e que é muito nossa amiga, se começou a interessar por ele e eu fiquei furiosa. Foi aí que percebi que ali havia mais qualquer coisa e que não era só uma grande amizade." E também nesta história, de rainhas sem coroa que são pessoas como as outras, apesar "dos altos e baixos como em todos os casamentos", são felizes para sempre.

por Nuno Saraiva

Fonte: DN

domingo, 26 de julho de 2015

O Povo Só Conta Com El-Rei



‘Os homens de hoje, como eu, crêem com ardente fé na redenção da nossa Pátria pelo Povo, o qual intervindo, a exemplo de outros países, de um modo directo, consciente dos próprios interesses e, ouso, dizer, preponderante no andamento dos negócios públicos, há-de regenerar fundamentalmente a sociedade…, põem todas as esperanças, como uma espécie de fetichismo, na vontade indomável, na largueza de vistas, na energia que em Vossa Majestade são preciosas qualidades individuais, mas também qualidades inalteradamente herdadas’, escreveu Alfredo Achiles Monteverde a El-Rei Dom Manuel II, em 07 de Outubro de 1909.
Um Rei não está constrangido nem refém de lobbies partidários, económicos ou mesmo desta ou daquela classe social. A função de reinar torna a chefia do Estado independente de calendários e lutas eleitorais, pois elimina os compromissos eleitorais e as promessas vãs. Independente de um calendário político o Rei tem a serenidade e a legitimidade para actuar como moderador entre as várias facções partidárias ou demais grupos da sociedade civil. Um Rei mantém uma posição de neutralidade em relação a questões políticas, e, assim, seria uma referência para todos. A Monarquia funciona ainda como um símbolo de estabilidade, união e continuidade, independentemente das mudanças na política partidária.
Mas sobretudo, o mais importante a nosso ver, o Rei seria o intérprete da vontade nacional, sentindo com o Povo, fazendo seus os problemas deste último e dando voz aos seus anseios, e, porque independente, garantiria a unidade dentro da diversidade politico-social do país, pelo que impediria a perturbação política e consequentemente a agitação social.
Além do mais, a experiência confirmou o valor da monarquia constitucional como uma fonte de travões e contrapesos contra políticos eleitos que poderiam procurar obter poderes maiores aos atribuídas pela Constituição e, assim, em último caso, como uma ressalva contra a ditadura!
‘Senhor meu Rei, aqui em Portugal há que desfazer esta atoarda de que tudo é do Estado! Os Vossos tão práticos Antepassados bem sabiam que, primeiro deviam garantir os vassalos e só depois a Eles mesmos que a Nação incarnavam. Agora, há só contribuintes e Estado democrático surdo e mudo, que hermético se encerra na sua torre de marfim, fazendo acreditar que tudo caminha, no melhor dos mundos possíveis! Na velha Bizâncio, entrada já pelos turcos, também assim se cuidava, protocolarmente…’, escreveu o 2.º Conde Alvellos in ‘O Berço Exilado do Príncipe da Beira’.
Miguel Villas-Boas 

Ss. Joaquim e Ana - Dia dos Avós

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Batalha de Ourique, alicerce de Portugal

Faz esta semana 876 anos que os portugueses derrotaram os mouros na Batalha de Ourique. Ponto alto da Reconquista Cristã contra a ocupação islâmica, foi ao mesmo tempo a pedra angular da independência nacional.

Travada, segundo a tradição, a 25 de Julho de 1139, a batalha de Ourique foi um acontecimento crucial no processo da fundação da nacionalidade. Foi depois dessa vitória contra uma importante força muçulmana inimiga que D. Afonso Henriques passou a usar o título de ‘rex’ (rei) de Portugal – isto é, assumiu, na prática, a condição de monarca de um reino de facto independente, apesar de o reconhecimento ‘de jure’ ter demorado ainda umas dezenas de anos.
A visão de D.Afonso Henriques
A visão de D.Afonso Henriques durante a batalha
A outorga do Condado Portucalense a D. Henrique de Borgonha por Afonso VI de Leão e Castela, em 1096, não deu àquele território do noroeste da Península Ibérica uma autonomia maior do que a de outros domínios senhoriais, que mantiveram relações de vassalagem com o suserano. Apesar de bisneto de um rei de França, D. Henrique era quarto filho do duque da Borgonha e ocupava um lugar inferior ao seu primo Raimundo, que fora recompensado com a Galiza e com a mão da primogénita de Afonso VI, D. Urraca.
O filho de Raimundo e Urraca viria a suceder ao avô no trono de Leão e Castela com o nome de Afonso VII. Para Henrique ficou uma filha natural de Afonso VI, D. Teresa. Quando D. Henrique morreu, em 1112, foi a condessa viúva (que usava o título de rainha – ‘regina’ – por ser filha de rei) quem assumiu o governo do território.
Fonte: O Diabo

quinta-feira, 23 de julho de 2015

As repúblicas e a corrupção

As repúblicas são ineficazes contra a corrupção. Sem um fio condutor, sem um vínculo (independente) que as ligue à raiz, as repúblicas são presa fácil de cliques organizadas, grupos de pressão ou associações secretas! A república americana neste contexto pode ser considerada uma excepção mas isso deve-se em larga medida à herança recebida do colonizador inglês e do seu sistema de justiça. Sistema que se caracteriza pela independência e capacidade de livre apreciação dos respectivos juízes, fruto de uma constituição histórica onde assentam as leis, constituição que tem representação humana na pessoa do monarca.


É por isso que quando passeamos os olhos pela geografia da corrupção, nomeadamente na Europa, chegamos sempre a duas conclusões: a primeira é que a corrupção é própria do homem e se encontra terreno propício alastra rápidamente tomando conta de toda a sociedade; a segunda conclusão é que os regimes republicanos além de terem menos defesas (anti-corpos) para prevenir a corrupção, têm também menos remédios para a combater. Não têm um sistema de justiça realmente independente do poder político*, não têm uma constituição suficientemente representativa**, e não têm um rei*** que a defenda.


Saudações monárquicas




*) Veja-se a propósito o chamado ‘tribunal constitucional’ em que parte dos juízes são indicados pelos partidos políticos!



**) Veja-se a formulação ideológica que ostenta! Veja-se a forma (inconstitucional) como exclui a monarquia em termos de alternativa política! Vejam-se enfim os limites materiais de revisão que proíbem que os portugueses se pronunciem sobre algumas matérias consideradas dogmas de natureza religiosa!

***) Alguém não eleito, alguém que não deva os favores do cargo a ninguém. Alguém, portanto, eleito pela história. Pelos milhões de mortos que nos precederam e construíram a nossa herança! E pelos milhões que hão-de nascer e a quem não podemos negar essa mesma herança.


Fonte: Interregno

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Se O Rei Não Era Popular, Então Quem Era?!



É tarefa primeira de um Monárquico desconstruir as mentiras propagadas pela maledicência republicana que aproveitava o clima de total liberdade de expressão e de imprensa – como o País jamais viria a ter – para produzir vis atentados, não só os sanguinolentos que tiveram expressão mais torpe no Regicídio, mas ao símbolo que eram os próprios Monarcas. Os republicanos, como Brito Camacho, diziam, ‘quanto mais liberdades nos derem, mais delas usaremos contra eles’.
Atiravam aos Monarcas as culpas que eram dos políticos e do sistema que os últimos foram viciando, de sorte que, por parte do rotativismo partidário nos últimos tempos da Monarquia não havia senão interesses e nenhuma dedicação sincera à Figura Real – sobretudo com a saída de uns poucos ministros capazes e devotados ao Rei, e as forças militares transformam-se em sítio de recrutamento por parte da Carbonária. Todos diligenciavam as suas comodidades e agenciavam o seu sossego e ninguém dentro do sistema estava disposto ou tinha coragem para sacrificar a vida pela bondade do regímen, pelo que as forças militares fiéis à Monarquia sofrem um rude golpe, quando na sequência do regicídio, o governo de Acalmação afasta Vasconcellos Porto, Ministro da Guerra, e Ayres de Ornelas, Ministro da Marinha.
Mas essa falta de estima ou indiferença não correspondia ao pensamento popular corrente: a nível orgânico ninguém era penhorado com mais alta estima do Povo que Sua Majestade Fidelíssima o Rei de Portugal, que o era Pela Graça de Deus, mas não menos pelaVontade dos Homens! Em vários e distintos momentos teve o Rei Dom Manuel II demonstrações do carinho e bem-querer do Seu Povo, assim foi depois de ter perdido seus Augustos Pai e Irmão, assim como quando o último Rei de Portugal, foi solenemente Aclamado Rei na Assembleia de Cortes, em 6 de Maio de 1908, diante dos Pares do Reino e dos deputados da Nação e, o Povo O saudou entusiasticamente como novo Rei. Só assim ficava completa a cerimónia, com a aceitação do Povo de Portugal, o beneplácito que no caso específico de Portugal é o acto jurídico que verdadeiramente faz o Novo Rei.
Poderiam dizer que essa anuência popular era característica apenas da Capital, porque lá se encontrava a Corte e o Rei era Figura mais presente; mas não, o Amor do Povo a El-Rei era de abrangência nacional, como se pôde constatar sempre que El-Rei percorreu o Seu Reino.
Ficou marca dessa aquiescência nacional pelo Rei Dom Manuel II a viagem que El-Rei fez em Novembro de 1908 pelo Norte de Portugal, onde recebeu banhos de multidão onde quer que se deslocasse. No dia 09 de Novembro de 1908, El-Rei Dom Manuel II de Portugal visita a Invicta Cidade do Porto, a Mui Nobre que tinha nas suas Armas o Timbre dos próprios Reis – o Dragão, símbolo da Coragem – e onde o jovem Monarca foi recebido como o próprio César triunfante o foi no Desfile pela sempre aeterna Roma, reconhecendo-O como a encarnação da história da Nação. No Porto a Visita Real parou a Cidade sempre laboriosa para aclamar entusiasticamente o seu novo Rei, como que ratificando a Aclamação que fora feita diante do Palácio de São Bento e dando mostras da enorme popularidade do Monarca entre o Povo, que é imparcial e benigno.
Os sinos repicaram alegremente nos Clérigos, foguetes estalaram nos céus e o Povo colocou mantas coloridas nas janelas das casas, faixas e bandeiras a pender nas árvores, e, sobretudo, acenou ao seu Rei com multidões compactas e entusiasmadas: Viv’ó Rei! Viv’ó Rei!, vozeava o Povo ao Rei que passava. Viv’ó Rei!
‘Portuenses e amigos: Na vossa casa e perante vós, Eu, Rei de Portugal: Juro manter a Monarquia Constitucional; juro concorrer quanto em mim caiba para o desenvolvimento harmónico das liberdades civis e políticas, que sirvam de base ao levantamento moral e material da nossa querida Pátria!’, declarou El-Rei Dom Manuel II diante do Seu Povo, assumindo-se como um funcionário da Nação! Personificando o carácter nacional o Rei não esquecia que a Sua função Real era um Ofício para realizar com sentido de Missão.
Por isso o Rei é amado pelo Povo, mas temido e odiado por aqueles cujo Exemplo provoca contrição e cuja Palavra cheia de Verdade provoca rubor.
E a Viagem D’El-Rei continuou e muitos mais testemunhos de afecto recebeu. Rumou a Casa para Reinar rectamente e a Sua jornada de Justiça e dE Liberdade só foi interrompida pelos comités revolucionário para a revolução pelas armas, pois que nas urnas não passavam dos 9% e dos 14 deputados porque o Povo, esse, amava o Rei como ama os Pais que os amam e deles cuidam. O Povo é Monárquico como é Português e se ‘expulsarem a natureza do Homem’, como escreveu Destouches, ‘ela volta a galope’.
Pois é Hora, é Hora… Chega o Rei!
Miguel Villas-Boas

terça-feira, 21 de julho de 2015

SAR, O Senhor D.Duarte de Bragança presente na cerimónia evocativa do Holocausto Judaico



No Torreão Poente do Terreiro do Paço teve lugar uma emocionante cerimónia evocativa do Holocausto Judaico. A iniciativa foi organizada sob a égide da Presidência Húngara da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA).

Após as intervenções da mesa Redonda teve lugar um magnífico concerto da famosa cantora húngara Eszter Bíró, que interpretou músicas e danças de Comunidades Judaicas, da Hungria, Iraque, Iémen, Espanha e Alemanha. 






segunda-feira, 20 de julho de 2015

Reis Portugueses Que Recusaram Tronos Estrangeiros



Com a divisão do Império Romano, em 395 d.C., integrada no Império Romano do Oriente, a Grécia começou a ser flagelada pelas investidas de inúmeros povos bárbaros, como por exemplo as hordas hunas. As arremetidas bárbaras devastam a Hellas e mergulham-na na miséria, por isso em troca de apoio na luta contra os bárbaros, a república de Veneza, senhora de uma portentosa Marinha, recebe diversas bases comerciais que depois expande. Com as cruzadas junta-se uma nova variável à confusão: os senhores francos que passam a reinar governando pequenos reinos nessa Península grega que é constituída por mais de 2.000 ilhas, dividindo assim, com Veneza, o território helénico, que só aparentemente se encontrava sob suserania bizantina.
Mas começa a expansão do Império Otomano que culmina com a queda de Bizâncio em 1453 e de Atenas em 1456. Nesse 28 de Maio de 1453, Constantinopla é conquistada pelo Império Otomano e cai o Império Romano do Oriente onde estavam incluídas as regiões da Hélada que acabariam por ser conquistadas uma após outra, muito pela acção da frota do pirata Barba Roxa que chegou mesmo a almirante da armada turca.
Porém, nunca os gregos se adaptaram à dominação turca que os reduzira praticamente à escravidão, e desde o início lutaram pela sua independência, mas não por uma Nação grega, pois não havia um conceito de nacionalidade grega. Após cerca de quatrocentos anos de domínio opressivo turco, nas últimas décadas do século XVIII, a Czarina da Rússia, Catarina a Grande decidiu promover a Causa dos gregos que tal como os russos eram cristãos ortodoxos. Apesar da recusa dos países ocidentais em colaborar com as insurreições das antigas províncias do comummente chamado Império Bizantino contra o Império Otomano, na região dos Balcãs começaram a nascer os primeiros eivos de liberdade. Mas o que mais contribuiu para essa ideia de libertação da Grécia foi um movimento cultural que defendia o renascimento do clássico grego, e a partir desse movimento diversos europeus fizeram eco das aspirações gregas. A Sociedade Filomusa, em Viena, era apoiada entre outros pelo Tzar Russo e pelo Rei da Baviera. Mas o momento crucial para as aspirações gregas foi a visita de Lorde Byron à Grécia. Byron que tivera uma educação refinadamente clássica simpatizou de imediato com a causa grega e tornou-se seu encomiasta. O laureado poeta granjeou para a causa muitos outros aristocratas europeus e que se voluntariaram espontaneamente para combater ao lado dos cristãos orientais. É desta época o fascínio por tudo o que era grego, e a própria opinião pública se deixou convencer fosse pela propaganda de Byron fosse pelas antiguidades clássicas gregas que enchiam os museus ingleses e franceses. Em Abril de 1824, dá-se o acontecimento decisivo para a libertação da Grécia: a morte de Lorde Byron em Messolóngi -que acabaria por cair nas mãos dos turcos. A opinião pública, consternada, pressionou as potências ocidentais a intervir e as armadas inglesa, russa e francesa, destruíram a esquadra turca em Outubro de 1827, em Navarino, preparando o caminho para a independência. Em 1829, a Grécia conquistou a sua autonomia através do Tratado de Adrianópolis. O Conde Capo D’Istria parecia vislumbrar-se como o líder para a nova Grécia, mas o seu assassinato levou as potências europeias a aplicar o regime de Monarquia para a recém-criada Nação.
Contudo, não havia Casas Principescas, Reais ou Imperiais nativas nos países balcânicos.
As Dinastias imperiais Comnenus e Paleólogo, que reinaram em Constantinopla, haviam-se extinguido aproximadamente quatrocentos anos antes. A Grécia, um dos novos países que surgiram das insurreições que perduraram por todo o século XIX, procurou, então, um príncipe estrangeiro para ocupar o trono vago.
Os gregos enviaram delegados a El-Rei D. João VI de Portugal para propor que o seu filho mais velho, D. Pedro, Duque de Bragança, se tornasse o primeiro Rei da Grécia independente. D. Pedro, como membro da Casa de Bragança, que por sua vez era um ramo português da Dinastia Capetíngea – lembre-se que o Conde Dom Henrique de Borgonha, pai do Rei Dom Afonso I Henriques de Portugal era bisneto de Roberto II Capeto, Rei de França, e sobrinho-neto de Hugo, abade de Cluny -, e como tal descendente dos Imperadores romanos da Dinastia Comnenus e Paleólogo – a última Dinastia bizantina dos Palatinos que por intermédio de Miguel Paleólogo se apoderaram do Poder Imperial de Bizâncio e que com eles conheceu novo período de esplendor até à Queda de Constantinopla e do Império em 1453. Para o Reino de Portugal, a proposta era muito aliciante, pois o príncipe real era afastado do Brasil o que impediria a sua independência e ia, enquanto primogénito, na senda do prescrito nas leis fundamentais, sancionadas pelos antigos usos e costumes portugueses, reinar Nação estrangeira.
Só que o convite dos gregos com a oferta do trono heleno chegou a D. Pedro imediatamente após os eventos do Dia do Fico – a 9 de Janeiro de 1822, D. Pedro pronunciou a frase histórica: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto, diga ao povo que fico!”
“O príncipe regente, porém, não traiu a confiança nele depositada pela nação brasileira, que o aclamaria seu Defensor Perpétuo. Amando verdadeiramente o povo da pátria que o viu nascer e tendo a intuição profunda da missão histórica que lhe seria dada desempenhar na terra bárbara e selvagem do Novo Continente, resistiu à vaidade de ostentar em sua fronte o diadema da pátria de Homero e de Péricles. E, assim, o Príncipe D. Pedro, primeiro imperador do Brasil, recusou a coroa dessa Grécia imortal, berço maior da cultura humana”.
Com a declinação da Coroa grega por parte de D. Pedro, os gregos optaram em 1832 pelo Príncipe Otto da Casa de Wittelsbach como seu Rei.
Mas a história grega que se relaciona com Portugal não fica por aqui. Corria, ainda, o mesmo século XIX, mais precisamente 1862, quando os gregos se revoltam contra o seu Rei, Oto I, e depõem-no, oferecendo o trono grego, desta feita, ao Rei de Portugal D. Luís I que recusa diante da tarefa enormíssima que seria Reinar em duas Nações tão díspares e distantes uma da outra. Perante esta negativa, os gregos não esquecem Portugal e viram-se para o antigo Rei consorte Dom Fernando II, viúvo da Rainha Dona Maria II, nascido Príncipe Ferdinand August von Sachsen-Coburg-Gotha-Koháry e como tal, também Capeto e Paleólogo, que, também, recusa o trono da Hélada. Então os gregos escolheram Jorge, Príncipe da Dinamarca, da Casa de Schleswig-Holstein-Sonderburg-Glücksburg, ramo principal da Dinastia de Oldemburg para ocupar o Trono vago.
Relativamente à Grécia ficou por aqui, mas, em Setembro de 1868, após um controverso reinado, uma revolução chefiada por Juan Prim depõe e expulsa a Rainha Isabel II de Espanha e a restante Família Real, e o governo provisório empossado, em 1869, não desejando implantar uma República oferece a coroa espanhola a Dom Luís I, numa tentativa de União Ibérica, mas que ia contra os ensejos do jovem Monarca de Portugal e dos Portugueses. Prim vira-se então para D. Fernando II destacando como enviado especial Ángel de Los Ryos, um famoso jornalista castelhano, portador de uma missiva secreta. Então, com quarenta e nove anos D. Fernando II estava com plena aptidão para suportar o peso de uma Coroa, mas a hipótese, mesmo que remota de uma Guerra entre as duas Nações, ou mesmo uma nova Guerra Civil entre partidários de uma União Ibérica e a maioria dos que o encarariam como traição e rejeitavam veementemente qualquer hipótese de agregação dos dois Reinos, leva a que D. Fernando também rejeite a oferta. ‘Non hay nada más difícil que hacer un Rey’, exclamaria Prim.
Mais tarde, depois do casamento morganático de D. Fernando com a antiga cantora lírica suiço-americana Elise Hensler, feita Condessa de Edla por outorga de Ernts II Duque reinante de Saxe-Coburgo-Gotha, e os anticorpos da corte à novel aristocrata, levam a que Prim volte à carga por intermédio do mesmo de Los Ryos, agora embaixador espanhol em Lisboa. Nova negativa de D. Fernando ao trono espanhol e a Prim. Mas desta feita, Dom Fernando propõe como candidato ao trono vacante do Reino de Espanha o seu primo, Príncipe Leopoldo de Hoenzollern-Sigmaringen, marido da Infanta Dona Antónia de Portugal. Perfila-se, então, uma portuguesa para Rainha consorte de Espanha. Não se verifica, pois a sugestão é rejeitada, mas como temido por D. Fernando, esta pretensão desemboca numa guerra: a franco-prussiana de 1870. Era isto que, primeiro Dom Luís I e depois D. Fernando II queriam, com as suas recusas, evitar para Portugal.
Mas o desfecho da história não perde, ainda que ténue, uma ligação a Portugal: o Trono do Reino de Espanha acaba por ser ocupado pelo Príncipe Amadeu de Sabóia, irmão da nossa Rainha Maria Pia, digníssima corsorte D’El-Rei Dom Luís I de Portugal.
Serve este artigo que relata estes episódios da nossa História para mostrar e demonstrar o enorme prestígio internacional – mesmo já no final do século XIX -de que os nossos Augustos Reis de Portugal gozavam junto das restantes Cortes e Nações europeias. Um tempo em que a pisada portuguesa era indelével. Tempo de Reis, claro!
Miguel Villas-Boas

domingo, 19 de julho de 2015

Ceuta 1415 - 1. Morte da Rainha Dona Filipa

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Foram longos meses de permanência no Porto, a liderar os trabalhos de construção de uma frota naval, a arregimentar os chefes militares do norte, a adestrar homens para combate e a recolher víveres de toda a espécie. O jovem infante D. Henrique regressava a Lisboa com a missão cumprida, ao comando da armada com 70 embarcações que el-Rei seu pai o incumbira de preparar. O infante D. Pedro partiu ao seu encontro fora da barra e os dois irmãos entraram juntos no estuário do Tejo, indo desembarcar no lugar do Restelo, numa praia onde mais tarde D. Henrique mandaria construir a igreja de Santa Maria de Belém. Reunia-se assim finalmente a grande armada com dimensão nunca vista nestes Reinos e festejava-se com alegria a iminente partida para a empresa tão grandiosa quanto desconhecida de quase todos. Surge então a triste notícia da súbita doença da Rainha D. Filipa que padecia no mosteiro de Odivelas. Para lá se dirigiram imediatamente el-Rei e os três filhos mais velhos, D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique, enquanto os mais novos, D. Isabel, D. João e D. Fernando ficavam ao cuidado do Mestre de Avis.

Philippa of Lancaster nasceu em Inglaterra a 31 de Março de 1360. Era a filha mais velha de John of Gaunt, duque de Lancaster e de Blanche of Lancaster. Foi educada na corte plantageneta, em pleno ambiente da Guerra dos Cem Anos que opunha o reino de Inglaterra ao de França. Terá sido muito influenciada pelo ideal cavaleiresco recuperado pelo seu avô, o rei Edward III, instituidor da famosa ordem de cavalaria da Jarreteira. As mortes, primeiro do herdeiro do trono – o Príncipe Negro, seguida do rei Edward III tornaram o pai de Philippa a pessoa mais poderosa em Inglaterra durante a menoridade do novo rei Richard II. Mais tarde, o duque de Lancaster, casado em segundas núpcias com Constança de Castela, filha de Pedro I o Cruel, quis reclamar a coroa de Castela por direito de sua mulher. Estabeleceu então uma aliança com Portugal para juntos fazerem frente aos reinos inimigos de França e de Castela. A aliança foi selada pelo casamento entre Philippa (já com 26 anos) e el-Rei D. João I, no Porto, em 1387, ano e meio após a grande vitória de Aljubarrota. 

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A Rainha Dona Filipa destacou-se sobretudo como esposa muito dedicada e pela influência que teve na extraordinária educação da sua prole, imortalizada por Camões no verso de Os Lusíadas “ínclita geração, altos infantes”. Mas o cronista Zurara, que contava 5 anos à data da morte da Rainha, descreve-a como modelo de virtudes cardeais – justiça, prudência, temperança e fortaleza – e teologais – fé, esperança, e caridade. Foi aliás na prática obstinada da caridade junto dos mais pobres e dos doentes que D. Filipa se deixou infectar irreversivelmente pela terrível peste que naquela altura fustigava Lisboa. Já no leito de morte, em Odivelas, mandou chamar os três filhos mais velhos e deu a cada um deles um pedaço do santo lenho da vera cruz para que lhes servisse de protecção. Entregou-lhes também as espadas que mandara fazer propositadamente para os ver armar cavaleiros, após a batalha pela expansão da fé em Jesus Cristo. Depois, a D. Duarte, herdeiro dos Reinos, encomendou a defesa dos povos com justiça, incumbiu D. Pedro da protecção das donas e donzelas e a D. Henrique rogou que zelasse por todos os senhores, cavaleiros, fidalgos e escudeiros.

A insigne Rainha Dona Filipa deixou este mundo a 18 de Julho de 1415, faz hoje precisamente 600 anos. Iriam o luto e o mau agouro fazer suspender a partida da armada para a importante expedição, preparada com tanto afinco e minúcia nos anos anteriores?

João Ferreira do Amaral, em 18.07.15

Fonte: 31 da Armada

sábado, 18 de julho de 2015

SAR, o Senhor Dom Duarte esteve presente, em Vigo, na celebração do 90º aniversário do Senhor Adriano Marques de Magallanes

Familiares, amigos y personalidades arropan a Adriano Marques de Magallanes en la celebración de su aniversario en Cesantes


Aspecto de la finca en la que se festejó el aniversario. // A.I.

En compañía de su extensa familia y decenas de allegados, Adriano Marques de Magallanes celebró ayer su 90 cumpleaños con dos actos en Cesantes. Una misa en el templo de San Pedro dio paso a una fiesta en la finca de los Regojo, para disfrute del paisaje y la amistad.
Una agradable tarde de verano con la ría de Vigo abrillantada por el sol fue el marco perfecto para la celebración del 90 cumpleaños de Adriano Marques de Magallanes ayer en Cesantes. Un aniversario que suscitó comentarios curiosos entre los vecinos de la parroquia por la asistencia de numerosas personalidades del mundo empresarial, cultural y político, relacionados con la trayectoria profesional del homenajeado. Primero la iglesia de San Pedro y después la finca de los Regojo acogieron una celebración preparada "entre sus familiares y amigos", según explicó su hijo Alejandro Marques.
Elegante y siempre amable, don Adriano saludó uno a uno a todos los invitados, tomándoles el brazo en gesto de afecto y cercanía. El empresario, fundador de la textil Partenón en 1958, recibió entre otras las felicitaciones del duque de Bragança, don Duarte Pío, heredero al trono de Portugal; el duque de Segorbe, Ignacio Medina; o el senador Patiño de Ecuador, país del que don Adriano es cónsul.
Como exdiputado y exsenador por el PP, recibió la visita del exministro José Manuel Otero Novas; la presidenta del Consejo Económico y Social de Galicia, Corina Porro; la delegada de la Xunta, María José Bravo Bosch; o el parlamentario Miguel Santalices, además del alcalde de Redondela, Javier Bas, y el anterior regidor Xaime Rei. Del entorno empresarial se acercaron, entre otros, la presidenta del ICO Irene Garrido; o el propietario de Remolcanosa, Elcano y Povisa, José Silveira.
De entre los familiares, estaban presentes su cuñado Pedro Regojo o su sobrino Manuel Márquez. En el recuerdo y el corazón de todos, Rita Regojo, la fundadora de Aldeas Infantiles fallecida hace cuatro años, y esposa de don Adriano durante más de medio siglo.
Vestidos con sus mejores galas, los invitados abarrotaron la iglesia de San Pedro de Cesantes, presidida por la imagen de la Virgen del Carmen y donde se ofició una emotiva misa con música de órgano y canto en directo. Después, en la finca y el pazo junto a la playa, pudieron degustar un delicioso catering. Fue el momento de la entrega de regalos, entre ellos obras de arte, que don Adriano aprecia especialmente. Fue una celebración digna de un hombre de categoría.
Fonte: Faro de Vigo

sexta-feira, 17 de julho de 2015

D. Carlos I – Discurso da Coroa de Junho de 1906



Em Junho de 1906, por ocasião da Sessão Solene de Abertura das Cortes, El-Rei Dom Carlos I de Portugal profere o seu 17.º Discurso da Coroa, tão mais importante quanto havia um novo Governo de aliança parlamentar entre o pequeno partido Regenerador-Liberal doChefe do Ministério João Franco e o Partido Progressista e que tomara posse a 19 de Maio.
Depois do aparato do Cortejo Real no Coche da Coroa, os Reis de Portugal acompanhados do Infante Dom Afonso – irmão do Rei – chegam ao Palácio de São Bento e entram nas Cortes com toda a pompa e circunstância. SS.MM.FF. o Rei Dom Carlos I e a Rainha Dona Amélia ocupam o seu lugar protocolar nos Tronos colocados sob um estrado na tribuna do hemiciclo.
As Palavras do Rei tinham um papel fundamental pois Sua Majestade, como escreveu Raul Brandão:  ’Se o deixam viver, tinha sido um dos maiores reis da sua dinastia. Só ele fala (e sonha) num Portugal Maior, e num Portugal esplêndido. O resto é visão de pequenos estadistas de trazer por casa.
Perspicaz e com visão de Estadista tinha uma capacidade enorme para fazer discursos, e ao contrário do que se, maldosamente, fazia crer não se limitava a articular as palavras escritas do Chefe do Ministério, conforme acontece hoje nas Monarquias Constitucionais. Embora, numa Monarquia Constitucional ‘o Rei reina e não governa’, Dom Carlos era, o oposto de uma figura de retórica cerimonial, mas como dizia Eça de Queiroz ‘é El-Rei a única força que no País ainda vive e opera’, ou, como haveria de escrever Homem Cristo in “Monarchicos e Republicanos”, 1928: ‘foi o político mais inteligente do seu tempo e o único, de todos, que tinha carácter’.
Sempre disposto a sacrificar o seu bem-estar em prol da Nação, cumpria escrupulosamente o seu dever: era um Rei que, claro está, relativamente aos Antigos Reis perdera poderes, mas que sem dúvida mantivera papel fundamental e responsabilidades que nenhum outro homem estava habilitado a desenvolver. O mandato para governar derivava do Rei, pois com o seu Poder Moderador era aceite como juiz-árbitro entre os partidos, poder esse que na 1.ª república seria atribuído não a uma figura de cera como era o presidente, mas à violência – sem dúvida por defeito do cargo. O artigo 71.º da Carta Constitucional de 1826 estatuía: ‘O Poder Moderador é a chave de toda a organização política e compete privativamente ao Rei, como Chefe supremo da Nação, para que incessantemente vele sobre a manutenção da independência, equilíbrio e harmonia dos mais Poderes Políticos’.
Com Dom Carlos I, na Chefatura do Estado estava Alguém, que por prerrogativa de nascimento ocupava esse cargo, mas que estava preparado desde cedo para a função de realizar o bem comum e o desígnio nacional e funcionar como uma figura supra-partidária. Apoiado na Constituição o Monarca era a chave de toda a estrutura política, como Chefe de Estado e Chefe Supremo da Nação, e incansavelmente guardava a manutenção da independência e estabilidade dos mais Poderes Políticos. A suprema magistratura do Estado recebeu-a por via hereditária da Sua Dinastia reinante, mas o Seu papel Real conciliava-se com a subsistência de uma Constituição que lhe conferia legitimidade democrática. O Monarca era um de diferentes órgãos do Estado e que exercia os poderes que lhe estavam consagrados na Lei Fundamental do País: direito de nomear o chefe do governo e exercer controlo sobre a composição do gabinete – afastando nomes indesejáveis -, dissolver a Câmara dos Deputados, nomear os Pares do Reino – membros da Segunda Câmara, a Câmara dos Pares -, acompanhar a governação no que dizia respeito às relações externas, representar a Nação no estrangeiro, outorgar honrarias e, além disso, o monarca era o comandante-em-chefe das Forças Armadas – era prerrogativa do soberano declarar guerra, fazer a paz e orientar as acções dos militares – pelo que nenhum ditador podia tomar para si o controlo do exército e usá-lo em proveito próprio.
Na sua fala do trono, o famoso Discurso da Coroa, Dom Carlos I de Portugal, Pela Graça de Deus e Vontade dos Homens, Rei de Portugal e dos Algarves, d’Aquém e d’Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc., com uma natural facilidade para discursar, brilhava. Os deputados e os Pares do Reino ouviam embevecidos o Seu Rei que lia de forma perfeita, com voz colocada e comunicativa, eloquente, que, como escreveu João Franco Castello-Branco, ‘batendo as palavras, recortando as frases, acentuando-lhes numa simples inflexão de voz o alcance e o sentido, muita vez trouxeram movimento e vida à prosa mortiça e frouxa de mais de um discurso da coroa’.
No Discurso da Coroa El-Rei disserta sobre o programa do Seu Governo, pois apesar de o Presidente do Ministério deter o poder executivo, é-o porque o monarca adjudica o poder e permanece apenas com a posição de titular e portanto o Governo era sempre o Dele. Este governo de concentração-liberal chefiado por João Franco governaria à inglesa, isto é, com firmeza mas equitativamente, cimentando a democracia: dedicando-se à implantação de reformas na liberdade de imprensa – ‘tolerância e liberdade para o país compreender a monarquia’ –, na contabilidade pública, na responsabilidade ministerial, e na repressão anarquista por intermédio da Polícia Preventiva, ou seja, um governo convictamente defensor das instituições representativas e das liberdades. Pretendia a concretização do sempre frustrado programa de Vida Nova, com um regime de correcção dentro de um quadro liberal.
Escreveria, mais tarde El-Rei: ‘Até ao momento, tenho tido sucesso, e tudo vai bem, até melhor do que eu julgava possível. Mas para isso, preciso de estar constantemente na passerelle e não posso abandonar o comando um minuto que seja, porque conheço o meu mundo e se o espírito de sequência se perdesse por falta de direcção, tudo viria imediatamente para trás, e então seria pior do que ao princípio.’
Mas, naturalmente que, as favoráveis intenções do Monarca e do Seu novo governo, não foram bem recebidas pelos que delas não beneficiariam…
Miguel Villas-Boas 

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Reconstituição histórica do desembarque do Rei D. João I vindo de Alhos Vedros para Lisboa


A Bandeira da Marinha do Tejo simboliza a Descoberta dos Portugueses: só há um Oceano e é possível ligar toda a Humanidade pelas estradas do Mar que os Portugueses desenharam
A Descoberta iniciou-se com um Conselho, em Alhos Vedros, de D. João com os Filhos em 1415.
Veio, tomada a decisão, com Embarcações  até Lisboa e partiu de seguida para Ceuta.
Estava iniciada a Descoberta que levou em Século e meio a fazer pelos Portugueses.
Com a Câmara da Moita, a Câmara de Lisboa, a Associação Alius Vetus, Cultura e Património, com organização do Centro Náutico Moitense, apoiada pela Marinha Portuguesa, no dia 19 de Julho de 2015 vai haver a Celebração no Mar desse começo Português.
Em embarcações tais como as de há Seiscentos Anos farão a Travessia de D. João I, que antecedeu a ida até Ceuta e depois até à Descoberta.
A Descoberta levou aos Portugueses Século e meio e trouxe-lhes a Imortalidade.
Uma das divisas da Marinha do Tejo é: Alcança quem não cansa

quarta-feira, 15 de julho de 2015

O Fascínio dos Nossos Reis



Não se pense que o fascínio que os nossos Reis provocavam era apenas interno, pois as Suas viagens oficiais ao estrangeiro eram sempre acompanhadas pelos locais e pelas mais prestigiadas publicações da Nação visitada.
A Monarquia é uma instituição que comporta uma carga simbólica sem paralelo; com admiração, o Povo reconhece o valor que ele julga o melhor e o mais poderoso da Nação: o Rei. O Rei personifica a Nação e como tal tem o precioso dom único de encarnar a sua História. Essa é a qualidade original e exclusiva da Realeza: garantir a continuidade da realização do projecto nacional.
A mística real é fruto da relação instantânea e afinidade natural que se estabelece entre o Rei e o seu Povo, Elo inquebrantável desde a fundação das nacionalidades.
Um Rei encanta com a Sua sociabilidade que facilmente atende e se interessa pelas reivindicações do seu Povo, mas também pela Sua dignidade familiar, pois um Rei já nasceu para ser Rei, não é Rei porque ficou rico e/ou poderoso ao cavalgar o galarim da política. O Rei é a verdadeira e única Promessa de Bondade e, também, de Justiça imparcial! Realmente, nenhuma outra instituição granjeia mais reputação de isenção, de supra-partidarismo e contribui para a estabilidade, do que a Instituição Real, porque um Rei independente de calendários eleitorais, sem filiação partidária, sem políticos ou ideologias favoritos e estranho a qualquer mudança na política partidária, funciona como um símbolo de união e isenção.
Como escreveu Fernando Pessoa, em 1935, já saudoso da figura real que havia sido afastada – não pela vontade popular, mas pelo escol republicano e carbonário – há 25 anos:
O rei reside em segredo
No governar da Nação,
Que é um realismo com medo
Chama-se nação ao Rei
E tudo isto é Rei-Nação.
A Coroa visará a consecução do interesse público, pois o Rei gozará sempre da plena liberdade de meios para garantir o bem público, o bem da coisa comum, o bem da res publica! Um Rei era privado de egoísmos, atento somente ao bem geral; o seu bem será sempre o bem alheio, o bem comum e, esquecido de si, põe-se sobretudo ao serviço dos outros, da Nação.
Os episódios da História do Reino são capítulos genuínos de tempos fabulosamente animados pelo amor à Pátria e ao Povo, de símbolos vivos de glória, não de simples consumo interno, mas que provocavam a admiração além-fronteiras, pois a Coroa Portuguesa foi a Instituição nacional mais admirada e ousada nas mais remotas partes do Globo. A Nação Portuguesa foi, na maior parte da sua História quase milenar, essencialmente Monárquica e o Reino de Portugal foi todo ele uma história de vitórias, pois as Quinas portuguesas faziam tremular qualquer estrangeiro mal-intencionado. Quando o ‘Pelo Rei!’, era o grito nacional do Povo fiel às instituições e à independência da Monarquia Portuguesa, que jamais se submetia ao jugo estrangeiro, os nossos maiores recebiam penhor da gentileza e respeito dos estrangeiros!
O princípio do fim verificou-se quando “a antiga fascinação exercida nos espíritos pelo poder dos reis e poder dos exércitos tem sido igualmente atenuada pelo poder superior que modernamente se reconhece ter essa coisa impessoal chamada dinheiro”, escreveu Ramalho Ortigão, e os Reis foram substituídos pelas oligarquias republicanas, que não têm nem provocam fascínio, que tem popularidade negativa, que não são nem provocam apontamento de nota e que fazem as parangonas nacionais e internacionais pelos mais vis motivos, que são chacota e motivo de reprovação.
Mas, ao contrário, a Memória dos Reis vive e só ela vive… nas páginas da história e na nossa recordação e prontas a renascer… no Rei a Ser!
Miguel Villas-Boas